A propósito do dia de hoje e respectiva lei-tema-do-dia, resolvi explicar ao Afonso o que tinha sido aprovado na Assembleia e perguntar-lhe a opinião:
- Sabes o Barney Stinson, o actor, mesmo, que é o Neil Patrick Harris, é gay e é casado com outro com outro homem, caro, e também tem dois filhos adoptados. Gémeos, acho".
Puro estado de choque.
"A história que ides ler passou-se há alguns milhares de anos" e foi adaptada há algumas décadas, ainda o vosso pai não era vivo, por isso, quando me vieres dizer que isto é uma seca, Afonso, escusas, eu sei!
Homero, adaptado por João de Barros (é que eu ainda pensei que pudesse não ser esse, o da Cartilha, pré-eu), com linguagem de padre - "ides"? para putos do 7º ano? que vivem dentro de PCs, smartphones, PS3s, 3D... "ides" fugir, por muito Clássico que seja Homero, 'idem' fugir, acreditem. E experimentem fumar menos disso e ter filhos.
Matilde, não vamos dizer às pessoas aquilo do teu 90 que a prof de português quase nunca dá num teste de interpretação, nem de ter sido a melhor nota, que sabes que isso nem a mim me interessa muito, tirando o prazer de ver o teu orgulho, mas se calhar temos que mencionar isso da nota para podermos explicar aquela parte em que mais contente do que com a nota, ficas, como eu fico, por teres sido a única a identificar aquela frase como metáfora.
A nota é só um número, pode variar por muitas coisas, o saber português é ali, naqueles detalhes.
E gosto, principalmente, que tenhas percebido que aprendeste isso por leres, livros. e por gostares.
O Afonso ouve, aparentemente pela primeira vez, a expressão "tortura chinesa" e diz-me que aquele anúncio é "um bocado racista". Fila indiana não, porque conhece, mas acha estranho. Eu, acho estranho verificar os "danos colaterais" destes tempos do politicamente correcto. A mim o que não me soa bem é que a ele lhe soe estranho...
Estes dois, os dois primeiros originais dele
Estão agora literalmente "em mim", tatuados, porque gosto (de tattoos e dos desenhos), porque no representam o Afonso e a Matilde, por serem dele.
Esta escola é algo especial. Onde as escolas "normais" têm recreios assépticos de borracha, esta é em Monsanto, num palácio do Séc. XVIII, o "recreio" são os jardins, o chão, terra como antigamente, os "aparelhos de trepar" ainda em ferro... só mesmo conhecendo. Todo o conceito de ensino é também diferente, não há notas, há arte, há horta e animais de criação. Por tudo isto escolhemos o Beiral para a primária dos nossos filhos, que por terem 16 meses de diferença terminaram o 4º ano em 2010 o Afonso e agora em 2011 a Matilde.
A título de curiosidade, há dias chego ao Beiral para ir buscar a Matilde e estava ela à conversa com a Manuela Azevedo dos Clã. O clip de "Embeiçados" foi filmado lá e tinham lá ido tocar um mini-concerto acústico. Claro que agora tenho em casa um super-fã dos Clã, o que me parece muito bem.
No 4º ano têm uma série de actividades de finalistas - uma peça de teatro para os pais, uma viagem de finalistas de 2 dias na Serra da Lousã, um baile de gala, um jantar de gala, uma quantidade de iniciativas e actividades nas quais veio a encaixar este projecto dos livros.
A professora do Afonso, que acabou o 4º ano em 2010, costuma convidar os pais dos alunos dela a irem falar à turma sobre as suas actividades profissionais. Ora, como é muito difícil explicar a crianças de 9-10 anos o que é a minha profissão, que eu próprio não consigo definir melhor que "escrevinhador" porque escritor não sou mas a minha vida é feita a escrever, pensei em mostrar como se faz um livro e usar a edição online como exemplo.
Como precisava de "material" para simular a edição de um livro, pedi à professora Mafalda que me enviasse algumas composições/contos dos alunos para fazer essa simulação e daí nasceu a ideia de lançar o desafio de cada um escrever dois contos para editarem o seu próprio livro. Assim nasceu o ano passado o livro “As Nossas Histórias”que não tem qualquer objectivo comercial (é vendido a preço de custo e disponibilizado para download gratuito como e-book), foi pensado para desenvolver o gosto pela leitura e, tanto quanto possível, deixar o "bichinho" do orgulho de ter um livro editado, quem sabe uma semente para o futuro. A reacção das crianças foi incrível.
Claro que este ano, a Matilde, sendo finalista, quis o mesmo "tratamento" do irmão e eu com prazer propus ao professor dela repetir o projecto, sendo que este ano se alargou às duas turmas do 4º ano, num total de 34 alunos. O livro já editado foi ontem apresentado aos autores, o “Contos Finais”.
Dá trabalho, reunir, corrigir, editar, formatar, publicar nem tanto (tirando a capa, onde tenho que recorrer ao melhor que o improviso me permite) mas só o prazer de ouvir uns "não sabia que era tão fácil, vou escrever um livro só meu nas férias" ou "quando for grande quero ser escritora" ou esta que adorei "pensava que ser escritor fosse muito chato mas afinal parece ser muito bom" mais que compensa o trabalho que dá e mais que desse.
O facto de ser uma escola com características especiais permitiu que estes projectos se concretizassem e para 2012, já sem filhos no Beiral, ficou já ontem falada a hipótese de se dar continuidade a esta iniciativa. Pessoalmente gostava e havendo esta vontade mútua, é bem provável que em junho de 2012 tenhamos um terceiro volume destes contos infantis destes mini-grandes-autores.
Um agradecimento especial à Bubok que desempenhou um papel fundamental neste projecto.
Ris-te? Ri-te agora na tua inocência de pai, meu amigo Nuno Markl. Chorarás, como eu chorei quando espetaram comigo numa coisa que dizem ser divertida porque é "aqua" e é "parque" e é no ALLgarve (ainda se fosse num sítio com praia...), e porque se escorrega, a cai, violentamente, e dói, aleija, magoa. E há gente. Aos milhares, Vi formigas com inveja. E espera-se. Ao sol. Na fila. Para subir. Ao Super-Mega-Hiper-Kebra-Kostas-Kamikaze-Deaa-Crazy-Ride-From-Hell.
Porquê?
Porque queremos?
Não.
Gostamos de ali estar?
Não.
Vamos magoar-nos na queda (qual "descer" ou "deslizar")?
Sim.
Porquê então?
Porque "crianças com menos de 1 metro e qualquer coisa que é sempre uns centímetros mais do que os nossos têm, só acompanhadas por um adulto". Mas aquilo não foi feito para um adulto, sobretudo um que quer estar sossegadinho sem se magoar e até gosta de água e banho sim, mas na praia!
Pois.
Só com um adulto.
Que somos nós. Hoje eu, amanhã tu.
Mas isto sou eu, que adoro parques aquáticos...
(Tinha parte destas quadras na cabeça, eles já não se lembravam e tinha ficado de procurar. Descubro versões muito deturpadas do que conheço, o que é natural nestas quadras da tradição oral portuguesa. Escolhi pois a versão que me pareceu mais próxima ao que eu conhecia. Seja como for, servem o propósito, eles riram, adoraram e, receio, vou ter que imprimir para amanhã circular por escolas... depois eu é que fico com fama de pai... enfim, cada um sabe de si :)
O CUME
No cume daquela serra
Plantei uma roseira
A rosa no cume cresce
A rosa no cume cheira
Quando cai a chuva grossa
A água o cume desce
O orvalho no cume brilha
O mato no cume cresce
Mas logo que a chuva cessa
Ao cume volta a alegria
Pois volta a brilhar depressa
O sol que no cume ardia
E quando chega o Verão
E tudo no cume seca
O vento o cume limpa
E o cume fica careca
Ao subir a linda serra
Vê-se o cume aparecendo
Mas começando a descer
O cume se vai escondendo
Quando cai a chuva fria
Salpicos no cume caiem
Abelhas no cume picam
Lagartos do cume saem
E à hora crepuscular
Tudo no cume escurece
Pirilampos no Cume brilham
E a lua no cume aparece
E quando vem o Inverno
A neve no cume cai
O cume fica tapado
E ninguém ao cume vai
Mas a tristeza se acaba
E de novo vem o Verão
O gelo do cume derrete
E todos ao cume vão
- Sabes qual é o melhor sítio para tosquiar?
- Não.
- A Serra da Estrela mas só no inverno.
(eles já estão habituados, percebem, não acham piada mas aturam, que remédio...)
- Afonso! Come!
- Não posso! Estou na casa de banho!
- Afonso, não comas!
- Matilde, o que é que queres para sobremesa?
- Arranjas-me uma manga?
- Arranjo, vai buscar a caixa da costura.
(revendo material escolar)
- Matilde, onde é que está o preto?
(pouco convincente)
- Ficou na escola
(espremo)
- Porquê?
(algum receio)
- A verdade é que te tenho que confessar que... perdi o preto.
(onde devia estar algo sério de pai para filha)
- Perdeste o preto? Coitado! E agora? Ele ficou sem ter onde comer, onde dormir... aposto que se tivesses perdido um branco tinhas ido à procura. Nunca imaginei vir a ter uma filha racista!
(entre o condescendente e o "já não suporto as tuas piadolas mas é melhor não dizer nada porque assim não me chateias por ter perdido a caneta)
- Pai...
- Pai, é verdade que a Shakira é bissexual?
- Pois, isso agora não sei filha, nunca lhe perguntei.
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