Matilde, não vamos dizer às pessoas aquilo do teu 90 que a prof de português quase nunca dá num teste de interpretação, nem de ter sido a melhor nota, que sabes que isso nem a mim me interessa muito, tirando o prazer de ver o teu orgulho, mas se calhar temos que mencionar isso da nota para podermos explicar aquela parte em que mais contente do que com a nota, ficas, como eu fico, por teres sido a única a identificar aquela frase como metáfora.
A nota é só um número, pode variar por muitas coisas, o saber português é ali, naqueles detalhes.
E gosto, principalmente, que tenhas percebido que aprendeste isso por leres, livros. e por gostares.
Estes dois, os dois primeiros originais dele
Estão agora literalmente "em mim", tatuados, porque gosto (de tattoos e dos desenhos), porque no representam o Afonso e a Matilde, por serem dele.
- Pai.
- Diz filha
- Como é que se chama aquele peixe parecido com a manta?
- Cobertor.
- Pai...
- É a raia, miúda.
Bonecas de trapos serão mas... ocupam camas, chão... (na primeira foto o pézinho da autora Matilde dá uma ideia do tamanho destas bonecas...)
Esta escola é algo especial. Onde as escolas "normais" têm recreios assépticos de borracha, esta é em Monsanto, num palácio do Séc. XVIII, o "recreio" são os jardins, o chão, terra como antigamente, os "aparelhos de trepar" ainda em ferro... só mesmo conhecendo. Todo o conceito de ensino é também diferente, não há notas, há arte, há horta e animais de criação. Por tudo isto escolhemos o Beiral para a primária dos nossos filhos, que por terem 16 meses de diferença terminaram o 4º ano em 2010 o Afonso e agora em 2011 a Matilde.
A título de curiosidade, há dias chego ao Beiral para ir buscar a Matilde e estava ela à conversa com a Manuela Azevedo dos Clã. O clip de "Embeiçados" foi filmado lá e tinham lá ido tocar um mini-concerto acústico. Claro que agora tenho em casa um super-fã dos Clã, o que me parece muito bem.
No 4º ano têm uma série de actividades de finalistas - uma peça de teatro para os pais, uma viagem de finalistas de 2 dias na Serra da Lousã, um baile de gala, um jantar de gala, uma quantidade de iniciativas e actividades nas quais veio a encaixar este projecto dos livros.
A professora do Afonso, que acabou o 4º ano em 2010, costuma convidar os pais dos alunos dela a irem falar à turma sobre as suas actividades profissionais. Ora, como é muito difícil explicar a crianças de 9-10 anos o que é a minha profissão, que eu próprio não consigo definir melhor que "escrevinhador" porque escritor não sou mas a minha vida é feita a escrever, pensei em mostrar como se faz um livro e usar a edição online como exemplo.
Como precisava de "material" para simular a edição de um livro, pedi à professora Mafalda que me enviasse algumas composições/contos dos alunos para fazer essa simulação e daí nasceu a ideia de lançar o desafio de cada um escrever dois contos para editarem o seu próprio livro. Assim nasceu o ano passado o livro “As Nossas Histórias”que não tem qualquer objectivo comercial (é vendido a preço de custo e disponibilizado para download gratuito como e-book), foi pensado para desenvolver o gosto pela leitura e, tanto quanto possível, deixar o "bichinho" do orgulho de ter um livro editado, quem sabe uma semente para o futuro. A reacção das crianças foi incrível.
Claro que este ano, a Matilde, sendo finalista, quis o mesmo "tratamento" do irmão e eu com prazer propus ao professor dela repetir o projecto, sendo que este ano se alargou às duas turmas do 4º ano, num total de 34 alunos. O livro já editado foi ontem apresentado aos autores, o “Contos Finais”.
Dá trabalho, reunir, corrigir, editar, formatar, publicar nem tanto (tirando a capa, onde tenho que recorrer ao melhor que o improviso me permite) mas só o prazer de ouvir uns "não sabia que era tão fácil, vou escrever um livro só meu nas férias" ou "quando for grande quero ser escritora" ou esta que adorei "pensava que ser escritor fosse muito chato mas afinal parece ser muito bom" mais que compensa o trabalho que dá e mais que desse.
O facto de ser uma escola com características especiais permitiu que estes projectos se concretizassem e para 2012, já sem filhos no Beiral, ficou já ontem falada a hipótese de se dar continuidade a esta iniciativa. Pessoalmente gostava e havendo esta vontade mútua, é bem provável que em junho de 2012 tenhamos um terceiro volume destes contos infantis destes mini-grandes-autores.
Um agradecimento especial à Bubok que desempenhou um papel fundamental neste projecto.
Zoo de Lagos. Recomenda-se. Nem um jaula, uma grade (excepto passarada, por motivos óbvios), bem cuidado, pessoal simpático, calmo. (É verdade que num mundo ideal não haveria animais em zoológicos, mas também não haveria pobreza, fome...).
Puseram-se a desenhar e não mais pararam... e eu mostro, claro.
- Sabes qual é o melhor sítio para tosquiar?
- Não.
- A Serra da Estrela mas só no inverno.
(eles já estão habituados, percebem, não acham piada mas aturam, que remédio...)
- Como é que se foge de um fantasma?
- Não sei.
- A correr.
- ...
- Pergunta-me porquê.
- Pronto... porquê?
- Porque ele cansa-se. Pergunta-me porquê.
- Porquê-ê...?
- Por causa da asma.
- Sabes que eu já sabia, não sabes?
- Sei.
- Ok.
- Mas vou continuar a fazer.
- Sim, eu sei. Infelizmente.
tão queridos...
Como não gosto de elogiar causa própria vou elogiar sim os Blogs Sapo por serem tão fáceis de entender que uma miúda de 9 anos consegue fazer isto sozinha.
Ideia de grupo de amigos da escola, um pai não fica indiferente ao ver uma pirralha da 4ª class... desculpa, Matilde, 4º Ano, começar a blogar e postar por conta própria.
- Querem ter irmãos?
- Siiiimmmm, porquê?
- Porque diz aqui na Dica da Semana diz "pato do campo com miúdos".
- Matilde, o que é que queres para sobremesa?
- Arranjas-me uma manga?
- Arranjo, vai buscar a caixa da costura.
A cena parece algo banal. Há um jogo de futebol na TV, um pai e uma criança sentam-se para ver. Afinal, joga o Benfica, com o Beira Mar é verdade, mas é o Benfica, a criança anda entusiasmada com a colecção de cromos da bola quase no fim. O normal nestas idades.
Normal? Eu acho que sim, mas será talvez um sinal dos tempos que me diverte que a criança sentada ao meu lado e que se diz do Benfica (onde fico indeciso entre decidir se consegui evitar que fosse do Sporting ou se não consegui convencer) e que além dos jogadores de vermelho ainda reconheça, dos cromos, quase todos os do Beira Mar seja a Matilde e não o Afonso.
Ele gosta de jogar, sim, futebol com os amigos, ténis 1 vez por semana - que isto 'inda sai caro, o incentivar a prática desportiva - mas a moda actual parece diversificar-se, no caso para o basquet. Mas ver, na TV, não liga.
A outra, senta-se ao meu lado, rouba-me tremoços e vai comentando, não tanto o jogo, mais os jogadores. No Benfica é o Fábio Coentrão pelo que entendi de um "ai o meu Fabio Coentrãozinho". No geral diz que é um tal Tiago Pinto do Rio Ave. Por mim tudo bem... Só me chateia o preço das carteirinhas de cromos hoje em dia, que como fazem os dois a colecção (embora ela é que trate das trocas pelos dois), a coisa não sai barata.
(revendo material escolar)
- Matilde, onde é que está o preto?
(pouco convincente)
- Ficou na escola
(espremo)
- Porquê?
(algum receio)
- A verdade é que te tenho que confessar que... perdi o preto.
(onde devia estar algo sério de pai para filha)
- Perdeste o preto? Coitado! E agora? Ele ficou sem ter onde comer, onde dormir... aposto que se tivesses perdido um branco tinhas ido à procura. Nunca imaginei vir a ter uma filha racista!
(entre o condescendente e o "já não suporto as tuas piadolas mas é melhor não dizer nada porque assim não me chateias por ter perdido a caneta)
- Pai...
- Ó pai, a Katy Perry não é uma rapariga?
- É.
- E I kissed a girl and I liked it não quer dizer eu beijei uma rapariga e gostei?
- ... Sim... porquê?
- Porque não é muito lógico ser uma rapariga a cantar isso! Não devia ser um rapaz?
enfim, entre explicações de tempos actuais, ausência de tabus - como é que se explica tabu a uma criança de 10 anos? - e mera provocação, lá pareceu entender. mas não aceitar. dá que pensar
- Afonso, achaste a Jillian gira?
- Achei.
- Hum, temos um apaixonado!
- Ó Matilde, sabes bem que essas coisas não me afectam como te afectam a ti que pensas logo em namoros.
- Pai, podemos ir viver para Londres?
- Por mim podemos ir já amanhã, Matilde.
- Então vamos!
- Amanhã se calhar não dá. E como é que sabes que ias gostar de viver em Londres?
- Porque lá as pessoas são mais simpáticas e educadas.
(espera aí, eu estava à espera dos argumentos anteriores: muita gente nas ruas, muita coisa para fazer, muitas lojas...)
- Porque é que dizes isso?
- Olha, uma vez, lá, numa loja grande a que fomos, estava bicha para a casa de banho e as pessoas disseram todas para eu passar à frente. Hoje (cá) estavam só algumas pessoas à espera mas eu estava aflitinha e como era a única criança a mãe pediu se eu podia passar à frente e a mulher que estava à frente disse "paciência, ela que espere que eu também esperei".
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