- Não gosto quando tu gritas.
- Eu também não gosto de gritar, M. mas às vezes é a única maneira de vocês fazerem o que eu mando, não é?
- Às vezes é, mas é mau à mesma.
- Olha, pelo menos não dói.
- Dói, dói.
- Dói? Pensava que palmadas é que doiam.
- Os gritos doem no coração.
(ora toma que já almocas-t... almocei)
Mais uma vez, esta não terá sido, do ponto de vista de credibilidade paizal o melhor momento para soltar uma sonora gargalhada, mas é incontrolável. Só que aqui, ao mesmo tempo que ri da expressão a cabeça pensa no conteúdo. Pelo que ela disse e pela forma que disse. Porque eu sei, é minha filha, que a M. não está a apenas a usar uma expressão que não espero ouvir da boca de uma pirralha de 6 anos, ela quer mesmo dizer aquilo.
Se há alturas em que tenho que ter a humildade de lhes dar razão (se tiver sempre eu, perco a credibilidade, torna-se um dado adquirido) esta foi uma delas
(porque é que eu me rio de ela me dizer que magoa o coração se eles são mestres em manipular e se for preciso recorrer a todas as armas fazer o nosso sentir-se mal?)
Finalizei com uma tentativa de acordo (nesta casa o Acordo é uma fase de teste de alguma medida que se se provar eficiente passa a Regra, é escrita e tem que ser respeitada por todos... menos a cadela).
- Então eu prometo que vou tentar gritar menos e tu prometes que vais obedecer antes de eu ter que gritar, parece-te bem?
- Eu vou tentar.
Claro que passados 10 minutos, quando,
- M., vai tomar banho (pela 3a vez)
- Deixa-me só...
- Deixa-me só não ter que te magoar o coração, está bem?
Percebeu e foi.